Vasco 2017: Livro "100 anos da torcida
vascaína", 1898 quando tudo começou
“1498-1898 -
Comemorações do IV Centenário do
Descobrimento do Caminho das Índias por Vasco da Gama”.
1898 Quando Tudo Começou
A criação de um clube esportivo entre o final do século
XIX e início do século XX seguia basicamente o mesmo roteiro: um grupo de
jovens idealistas e praticantes de esportes se reunia e decidia fundar uma
agremiação. Foi assim no Club de Regatas Botafogo, no América Football Club, no
Fluminense Football Club e, também, no Club de Regatas Vasco da Gama.
O contexto histórico e social revela que não bastavam
apenas generosas iniciativas individuais para que tal tipo de idéia se
concretizasse. Era preciso que várias condições permitissem que simples idéias
não se evaporassem ou tivessem curta duração.
O período entre 1890 e 1930 apresentava características
próprias que fizeram daquela época uma
excelente oportunidade da proliferação da prática esportiva. A cidade do Rio de
Janeiro vivia um processo acelerado de urbanização, em que se destacava uma
transformação nos meios de transporte e um incremento nas atividades comerciais,
além da multiplicação de indústrias. Tudo indicava que, segundo os mais
otimistas, a cidade caminhava na direção das grandes metrópoles como Londres,
Paris e Nova Iorque.
Era a
“modernidade” chegando de forma cada vez mais intensa. E praticar “Sport” era
ser “moderno”. O remo principalmente e, depois, o futebol eram vistos como
práticas associadas a um estilo de vida novo que trazia para a juventude
carioca a esperança de estar contribuindo para a “construção do novo mundo”.
Para o
pesquisador da história do esporte no Rio de Janeiro, Victor Melo, o prestígio
do remo e a grande popularidade alcançada por esta atividade física pode ser
atribuída a vários fatores que levaram a ser o esporte preferido no início do
século XX, superando todas as outras incipientes práticas esportivas, como o
ciclismo e o football. O remo ”enfatizava uma nova estética corporal, uma
preocupação renovada com a saúde, a busca de um estilo de vida ao ar livre, a
competição, harmonia e coletividade”[1].
Quando
os quatro jovens praticantes de remo tiveram a idéia de criar o C. R. Vasco da
Gama, logo eles receberam o apoio de dezenas de outras pessoas que se
empenharam em levar adiante aquele desejo. Muitos deles nem eram praticantes de
esportes, mas compartilhavam com os mesmos ideais daqueles jovens.
A
definição do nome do clube ficou estabelecida no dia de sua fundação (21 de
agosto de 1898). Em seguida foi eleita uma diretoria e uma comissão para
redigir o Estatuto. Como era comum à época foi convidada uma figura mais velha
e com mais recursos, para presidir o clube: Francisco do Couto era escolhido
como o primeiro presidente do clube.
Localizado em um bairro popular no centro da cidade, a Saúde era uma
região densamente povoada, com a presença de muitos imigrantes portugueses, mas
também com uma forte presença de negros. Esta era uma diferença básica do Vasco
para muitos outros clubes de remo, especialmente para aqueles localizados na
Zona Sul. O perfil socioeconômico de seus atletas e dos associados era
majoritariamente composto de portugueses ou filhos de imigrantes, quase todos
eram trabalhadores do comércio. Enquanto os clubes de regatas da Zona mais rica da cidade faziam questão de se
apresentarem como aqueles que “reuniam os filhos das melhores famílias da
cidade” e cobrando altas mensalidades, o Vasco, desde o começo, procurou ser um
clube mais aberto e disposto a reunir uma população menos favorecida. A luta
por manter o clube localizado no Centro e manter uma identidade menos elitista,
não será uma questão menor, como veremos no ano seguinte.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo
historiador Jorge Medeiros.
[1] MELO, Victor Andrade de. Cidade Sportiva. Rio de
Janeiro: Relume-Dumará.2001. p.155
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